domingo, 17 de maio de 2009

18 Anos

Augusto Alberto

Azharuddin, dito assim, a frio, ficamos sem saber do que se trata, mas se se disser que é o nome do menino que foi figura principal do filme, vencedor dos últimos Óscares, Quem quer ser bilionário?, já somos capaz de nos entender. O menino tornado ocasional estrela, tal como outros seus companheiros indianos, vive em barracas na grande cidade de Mumbai. Acontece que a imprensa nos disse que a barraca onde o menino vivia com o seu Pai, tuberculoso, foi destruída e ainda por cima, para a concretização do acto, a polícia de Mumbai ferrou na família e nos restantes residentes, umas valentes cacetadas. Estas coisas impressionam-me sempre, sobretudo porque também quando fui menino passei por algumas dores, e porque sei também que a “grande democracia” Indiana, é uma extraordinária tragédia colectiva, tal como nos disse Salman Rudhsie, no seu livro, O último suspiro do mouro e a propósito, o próprio filme. Mas no mesmo dia em que li esta noticia, também vi uma reportagem num canal de Tv., que me deixou duplamente amargurado, até porque neste caso, já sou eu, na pele, de quem durante muitos e muitos anos trabalhou com muitos jovens, e felizmente com pleno êxito. Do ponto de vista desportivo, com muitos e variados títulos, alguns com útil experiência internacional e fundamentalmente, com enorme sucesso escolar e social.
Tratou-se de uma reportagem que falou da desmesurada preocupação de um pai em fazer dos seus filhos, especialmente um deles, um homem rico, via futebol. Quero aqui dizer, que neste mundo que nos ensina que é preciso consumir, consumir de preferência do melhor, e que para isso é preciso ter muito dinheiro, é uma cretinice. Mas o mais grave, é que há quem ache, ser possível com passes de mágica. Aquelas imagens impressionaram-me exactamente pela idiotice, de criar rotinas tão estreitas e únicas em meninos de 7 anos, como a redução de experiências que se querem universais, em geral, do gesto, em particular, se nos ativermos exclusivamente ao conceito do treino, e muito singularmente, às do ponto de vista psicológico, que sendo tão limitadas, em caso de falha, as sequelas ficarão por muitos anos. Este amor paternal, visto deste modo, é uma perversão!
Nestas histórias, falou-se ainda de um número, o 18, para o efeito, um número redondo. 18 anos será então o momento da maior idade e chave. Porque o realizador nos diz que os meninos, figuras centrais de um entretimento filmico, poderão, enfim, chegar a uma conta onde lhes depositou dinheiro. Acreditemos nessa bondade. E se um menino foi exactamente menino, os 18 anos serão o início da maturidade cívica, concerteza, e a vida então correrá. Mas se o menino nunca foi menino, então os 18 anos serão só uma passagem de um trajecto abjecto e besta que continuará assim, até ao epílogo. Mas 18 anos poderá ser também a idade de todas as desilusões no futebol, e a passagem a um estado menor, porque essa barreira custa e a taxa de sucesso é muito estreita. Jogar tudo na estreiteza dos horizontes é o mesmo que qualquer um de nós se candidatar ao euro milhões, digo eu, com taxa de reduzidíssimo sucesso, com toda a probabilidade.
Todavia, esta democracia que nos tranca e trata de matar muitos pela fome, também esmaga o pensamento, cada vez mais, único, e por isso, deixa muitas vezes as pessoas parvas.
A propósito desta história indiana, achei justa uma observação colocada na net, com lapidar síntese. – Se calhar nunca nenhum dos miúdos vai chegar aos 18 anos. Sabe-lo-e-mos mais adiante.

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