quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Houve festa e romaria na minha terra

Augusto Alberto



Houve festa e romaria na minha terra. Carrosséis, barracas com sardinhas e bifanas, farturas e cerveja. Mais o Quim Barreiros, a procissão e a banda. Tudo como sempre. E houve também cordeiros da igreja que militam no arco do poder, que aproveitaram, neste tempo de eleições, o ensejo para distribuir a sua publicidade e alguns, até dançar. Os mais cépticos poderão dizer que estivemos perante publicidade enganosa. Não sei, o tempo o dirá, porque democraticamente, o povo, esse soberano, tudo tem caucionado e por isso, sendo assim, tudo perfeito. Lá estive também, mais a ver do que a ser visto, a procissão, a banda e a militância.
Nesse instante, lembrei-me que fui vítima de uma tentativa de ser moldado como pessoa católica e apostólica, que fracassou, porque não fui em testamentos e histórias bíblicas, e que desde menino, é bom que se diga, por volta dos 10 anos, me pareceu que havia por ali uma espécie de tenaz que apertava. Incomodava-me a luz coada e difusa das capelas e igrejas, oprimia-me o cerimonial sempre muito recto e por isso, aquilo me pareceu tudo muito pesado para corpo tão frágil.
Fiz boa parte da minha juventude em Lisboa e ainda me lembro das excursões à capital para sassaricar Salazar e o cardeal. Figuras beatas e com basto cardápio de atrocidades. Ambos eram o regime e o cardeal o suporte. Não é por acaso que logo após o 25 Abril, e nem sei se ainda agora, em muitos locais do país, se votava ou ainda vota, por indicação do ministro da igreja, no partido do Sr. padre. Por isso estranhei o desconforto de D. Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa, que disse, “não podemos andar a brincar aos partidos e é necessário encontrar solução que dê consistência ao país”. Evidentemente, a D. Carlos falta-lhe a coragem, ou se calhar prefere olhar de viés, para não ter que indicar a verdade dos factos. Dir-se-á que D. Carlos procura mourejar alguma coisa.
Mas também será bom que a igreja universal, olhe para o umbigo, porque apesar de estarmos em pleno século XXI, não se livra de bastas e más malfeitorias.
O que fizeram na diocese de Boston, foi de tal monta, que a respectiva está praticamente arrumada, tal foi o esforço financeiro necessário para ressarcir famílias humilhadas por padres que afinal se botaram a perder pela carne. Mas não só. Nos inquestionáveis colégios britânicos, os padres mal se portaram também. Quer isto dizer, que do ponto de vista da moral e dos bons costumes, alguma igreja é de chumbo. Do ponto de vista político, com um espólio feito de Deus, Pátria e autoridade, em concubinagem com os regimes torcionários da América do Centro e Sul, e ainda outros, aqui e tão perto, estiveram no centro da repressão e pobreza.
Provavelmente estará na altura da correcção pelos caminhos difíceis do arrependimento. Sendo assim, será importante que D. Carlos diga aos seus fiéis, que afinal, se a pátria está no estado lamentável de atonia, se deve exactamente às práticas dos partidos que acolhem no seu seio distintos cordeiros da igreja, que sempre dirigem ao contrário dos interesses do povo comum. De seguida, D. Carlos Azevedo vai ainda ter de fazer outro acto de contrição. Poderá mandar, por exemplo, pôr os altifalantes das igrejas bem altos, para no mínimo, indicar os responsáveis.
Era de coragem.

2 comentários:

Fernando Samuel disse...

Excelente texto.

Um abraço.

J.S. Teixeira disse...

É bom receber palavras destas, numa altura em que somos bombardeados por desgraças.

Já agora...Militantes do PS Seixal agridem e ofendem humoristas "Homens da Luta" na visita "relâmpago" de Sócrates ao Seixal. Conheçam os detalhes no blogue O Flamingo.