terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Quando "os homens ficaram mais sós"


Um dos mais carismáticos leaders africanos, como Nkrumah, Mandela, Neto ou Cabral, ficará na História como um símbolo da luta contra o colonialismo, da Liberdade e da assunção da dignidade dos povos. “Coisa” que as “democracias” ocidentais não toleram nunca.
Faz hoje 52 anos que foi vilmente assassinado, na sequência de um golpe de estado que derrubou o governo  do pais recém-independente que há poucas semanas chefiava.
Recordar Patrice Lumumba é lutar pelos seus ideais. Que estão, ainda, por cumprir. É condenar o colonialismo, o racismo e qualquer outra forma de injustiça. É desejar que África deixe de ser um continente adiado.

“Nenhuma brutalidade, maltrato ou tortura me dobrou, porque prefiro morrer com a cabeça erguida, com a fé inquebrantável e uma profunda confiança no meu país, a viver submetido e pisando princípios sagrados. Um dia a história julgar-nos-á, mas não será a história segundo Bruxelas, Paris, Washington ou a ONU, mas a dos países emancipados do colonialismo e seus fantoches”, escreveu ele numa carta à sua mulher, pouco antes de morrer.


Em memória de Patrice Lumumba

Quando partiste,
pela noite fora os tambores
não cessaram de chorar.

No mais fundo da floresta
o leão calou seu rugido
os arbustos perderam seu verde
e no corpo em mágoa da terra africana
fizeram-se as lágrimas um afluente do congo.

Em cada som de África
veio o eco de um pranto…

e enquanto tambores choravam
teu corpo em ácido se diluía
na morte mais sem rasto.

Era a vingança que chegava
pelo braço de Tshombé:
a vingança da Union Minière
de olho no cobre do Congo
de olho no urânio do Congo.

Era a vingança que chegava
na vileza de Munongo:
a vingança dos trusts acuados
dos sequiosos abutres da finança
de olho no cadáver do Congo.

Quando partiste,
pela noite fora os tambores
não cessaram de chorar.

E em cada som de África
veio um eco chorando Lumumba
chorou o pássaro e chorou a fera
chorou a nuvem e chorou o vento
chorou a seiva nos imbondeiros
o fruto acalentado que não vingou.

Porque quando partiste
os homens ficaram mais sós.


Jofre Rocha (Janeiro, 1967)

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