sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Capitão Ahab


Augusto Alberto


Deu à praia uma baleia anã. Apareceram mirones, mais o técnico que explicou as razões prováveis para o desafortunado desenlace. Por ventura emalhada numa rede de um barco de pesca, não resistiu e acabou cadáver na praia da Figueira da Foz.
Olhando sobre o cadáver da desventurada e sem medo de juntar semântica à dialéctica, tenho a aspereza, e a estultícia, de comparar a baleia anã ao país, que tem uma cidade, com uma grande praia, a praia do relógio, que eu chamo local dos infortúnios porque mesmo ao lado, está amortalhado, há mais de 40 anos o cargueiro Hera, que por razões de bojo, e de atitude, escrevia, é de sobejo também um pais anão.
Por presunção, sublinho que a anã morreu emalhada e, por certeza absoluta, Portugal foi emalhado pela burguesia dominante, que o levou para a União Europeia, para se colocar a salvo de escolhos, ainda que as razões a que apelou para justificar essa opção, tenham sido a de o colocar no pelotão da frente da nações europeias. Lembram-se? Milongas, em que acreditaram milhões de aselhas, descobertas, todavia, com o passar do anos. Contudo, apesar das mentiras e da vida duríssima, a burguesia dominante continua sem freio, contorna obstáculos e lança as artes, enquanto o povo está enredado nas malhas lançadas pela canalha da Europa e do Internacional Monetary Fund.
O Banif, diz-se, vai receber do erário público 1 Milhão e cem mil euros para se recapitular. Novo cambalacho! E as sete maiores fortunas de Portugal, no ano em que milhares de portugueses jorraram pelas pedras das calçadas, embrulhados em farrapos e cartão, aumentaram a riqueza em 13%. E Vítor Constâncio, toupeira, socialista puxa saco e tecnicamente vesgo, por opção de classe, actualmente a ocupar o lugar à direita da santa finança europeia, não entregou no Tribunal Constitucional, a prova dos seus rendimentos. Contudo, o cidadão não deve esquecer que enquanto Constâncio se fez de sonso e a baleia anã, se deu à morte num lugar fraterno, os portugueses foram encurralados pela grande burguesia dominante e, lê-se, voltam sem brio e vínculo a França, às mesmíssimas parcelas, onde sovaram os nossos infaustos avôs, para trabalhar mais horas e por menos dinheiro.    
Se ainda usa cueiros e não imagina o que foram os “bidonvilles”, pergunte a quem saiba e se não houver quem lhe explique, pesquise. Verá, como neste mar eriçado e de redes traiçoeiras, está a ser entregue às mãos de um manhoso sucedâneo do capitão Ahab, aleivosado de arpões, que depois de o ter na corda, vai puxando, devagar, devagarinho, até ao aperto final. 

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