terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Esganai-vos! Esganai-vos!


Augusto Alberto
   

Um povo sereno e às ordens, moldado por estupores e espertalhões, que lhe desenvolveram características de resignação, inevitabilidade, inveja e truques muito imperecíveis para sobreviver, como acreditar em milagres, nas possibilidades do funambulismo alternativo, ou, tão só, dividir a sardinha por dois. Mazelas, que são o reportório da elite, que quase nada mudou ao longo de séculos. Para exercício de denúncia, cito Alexandre Herculano, e a sua história sobre a inquisição.

Desde logo, é preciso caracterizar a cabeça da elite, à época, D. João III…um príncipe ignorante e fanático, dominado por padres e hipócritas, e que tomara por principal mister de rei perseguir a porção mais rica e industriosa dos próprios súbditos …arruinando o país, abrindo o campo a todo o género de imoralidades. E um Povo encarreirado nas preces. Primavera de 1506… era a peste…Faziam-se preces públicas…houve quem cresse ver aí …uma luz estranha. Espalhou-se logo a voz do milagre…durante quatro dias a crença no prodígio foi ganhando vigor…recresciam suspeitas…achava-se…um cristão-novo ao qual escapou da boca manifestações imprudentes de incredulidade acerca do milagre…dois outros frades, um com uma cruz, outro com um crucifixo arvorado…bradando, heresia, heresia!... Queimai-os!... Nessa praça foram queimados nessa tarde trezentas pessoas… E desviado do seu papel principal, para que esteja sempre às ordens e tolhido pelo medo de mudança, submete-se. Qualquer viagem de el-rei era um verdadeiro flagelo para os povos por meio dos quais transitava. A imensa comitiva de parasitas de todas as ordens e classes devorava substância dos proprietários e lavradores. Mantimentos, cavalgaduras, carros, tudo era tomado, e os detentores ou não pagavam ou pagavam com escritos de divida, divertindo-se os cortesões, muitas vezes, em destruírem os frutos as fazendas … contente de aumentar as dificuldades económicas com a manutenção de frades e obras dispendiosas …desbaratava a fazenda do Estado com mercês de dinheiro, verdadeiramente pródigas, feitas a cortesãos afeiçoados…
História sobre uma Nação amorroada, ideologicamente apertada ferreamente pela elite, que por sua vez, refinada na mentira, está bem e não precisa de um país diferente. E para que se não duvide, em referência ao FMI, que é simultaneamente capataz e o mosquito que pica e suga um patamar acima dos outros, Portas, que se péla por vestir a pele de “demiurgo”, sobre a “refundação” fez a rábula do sonso. Soubemo-lo no que à matéria social diz respeito, pensões ou abono de família, os “cristãos”, alinhados pela história, deixaram o seu risco e aquiescência. Com as devidas ressalvas, a elite católica que sobrou do “cerejeirismo”, liderada pelo látego do Caldas, a coberto do tacticismo político e do crucifixo, quase repete os gritos de 1506, dos frades de S. Domingos. Esganai-os! Esganai-os!
O que fazer? Esganar a base eleitoral da corja.

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